O que vemos em algumas organizações híbridas (parte do time presencial + remoto) é a cobrança de uma produtividade comprovadamente maior para quem está remoto. Mas qual o impacto dessa prática dentro do grupo?
Se uma pessoa está remota, todas estão
Quando falamos em adotar uma cultura de trabalho remoto, pode parecer contra intuitivo, mas não é necessariamente sobre o local de trabalho. Na prática nos referimos a um conjunto de hábitos, processos e comportamentos que uma equipe passa a aplicar dentro da sua rotina.
A mentalidade “remote first” compreende várias dessas práticas, onde vamos precisar assumir que a experiência deve ser pensada sempre priorizando quem não está presente fisicamente.
Isso envolve começar tudo pelo digital e transferir os fluxos de trabalho, comunicação e tomada de decisões para o ambiente virtual. Uma vez que isso é estabelecido, o local de trabalho se torna uma simples questão de escolha.
Trabalhar fora do escritório é um “benefício”?
Dito isso, não deveria ser visto como um benefício adicional escolher trabalhar de casa, por exemplo.
Existem pessoas que detestariam trabalhar de casa, já para outras ter essa oportunidade seria um sonho. É uma decisão particular de cada um, seja por motivos de produtividade, bem estar ou da sua própria rotina pessoal.
Não há nenhuma vantagem especial para quem ficou no escritório, como não há desvantagens para quem prefere variar o local de trabalho.
Gestão direcionada a resultados
Assumindo essa mentalidade e postura podemos considerar que essa equipe já dependerá cada vez menos de um local físico.
E a partir daí, entra a atuação das lideranças no sentido de definir papéis, responsabilidades, e engajar as pessoas do time em objetivos compartilhados. Visando entregas que irão trazer os resultados esperados para a organização.
Os objetivos devem estar alinhados com todos os membros da equipe. Independente do local de trabalho de cada um. Aqui o que mais importa é a dar clareza ao resultado que estamos buscando como um time, e através de quais entregas poderemos chegar lá.
Repetindo, isso vale para todos. Estejam no escritório ou não.
Estou destacando as palavras entrega e resultado para reforçar um ponto importante nessa discussão. Ter uma entrega e produtividade maior não necessariamente significa que isso irá trazer o resultado que estamos buscando.
Foco no progresso do trabalho
Se não estamos mais vendo as pessoas, nem controlando horários e tampouco o local de trabalho, o que fica visível dia após dia?
Isso mesmo, as entregas!
Quando quebramos um objetivo grande em pequenas partes, conseguimos ter uma visibilidade maior do progresso, e consequentemente uma percepção de progresso mais clara. Acompanhando diariamente conseguimos saber a nossa evolução e a performance de cada um.
Confie no seu time ou desista do trabalho remoto
Agora que já temos um escritório na nuvem, objetivos, papéis, responsabilidades, combinados, nos resta criar condições para que as pessoas exerçam esse trabalho da melhor forma. Com autonomia, liberdade, e principalmente confiança.
Pedir para uma pessoa que não está no escritório trabalhar mais do que as que estão presencialmente é um atestado de desconfiança.
“Eu não confio que você trabalhe à distância, logo pra justificar isso você precisa produzir mais”.
Uma postura como essa quebra o grupo no meio e só revela que, por estar falhando em alguns dos pontos citados acima, estamos recorrendo a uma “punição disfarçada” como forma de compensar nossa insegurança.
Work smarter, not harder
Portanto, líderes, não se enganem. Tratem as pessoas da forma mais igualitária, justa e humana. Não faz sentido implementar o trabalho remoto sob uma premissa de desconfiança.
Valorize as pessoas através de incentivo e reconhecimento para que elas possam dar o máximo do seu potencial e se sintam felizes com o que fazem todo os dias.
Ah, e respondendo à pergunta do título do artigo, de forma alguma esse seria um motivo para alguém ter que produzir mais. Work smarter, not harder!